segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

As mulheres de Botticelli.



Fico impressionada com o que nós mulheres nos submetemos para nos tornarmos magras e atraentes. Dietas milagrosas e sem fins que nos privam das melhores maravilhas gastronômicas da humanidade, como um inocente sorvete no fim da tarde com amigos, cintas que não nos deixam respirar e todo tipo de exercício físico possível e imaginável. Tudo bem! Exercício nem sempre, mas queremos e esperamos pelo milagre do emagrecimento.
Lendo uma destas revistas semanais cheias de cultura inútil, mas que adoramos pra saber quem se separou, quem se casou, com qual roupa a fulana foi à esquina, quem o galã garanhão comeu na semana passada, encontrei a bela da vez. Uma dessas modelos super faturadas e de pele perfeita pregando que o bonito é ser magra e que ela esta trabalhando para ficar ainda mais magra do que o seu normal.
Gente! A mulher é só pele e osso, perfeitos, diga se de passagem, e quer emagrecer mais, porque assim ela ganha muito mais trabalhos. E afirma que não adianta reclamar, o bonito e chique é ser magro.
Aí vou ao espelho e me analiso. Tenho certeza de que aos vinte, essa barriguinha levemente arredondada não existia, esse papinho debaixo do meu queixo querendo aparecer, nem em sonho era concebido e esses braços fortes que mais lembram uma caminhoneira, eram finos e delgados.
Tudo bem. Estou exagerando um pouco como toda mulher. Para nós, qualquer espelho engorda e míseros cem gramas a mais, são o fim. Volto ao espelho agora com mais amor por mim. Espera lá!
Tento ser o mais saudável possível, não vivo descontrolada com sacos de batatas industrializadas e refrigerantes enormes na volta do dia, tenho pernas, bunda e ultimamente, depois que deixei de ser muito magra, até peitos melhores ganhei. Então por que vivo sempre querendo o padrão modelo-atriz-apresentadora?
Eu sou normal, não ganho rios de dinheiro vendendo minha imagem e não preciso ser escrava de nenhum padrão para ser bonita. Porque ser bonito está na atitude, uma mulher que se cuida, anda cheirosa, arrumadinha tem seu valor independente do peso e, por favor, sejamos bem humoradas, isso sim garante um excelente relacionamento.
Adoro, pra falar a verdade, o padrão de Botticelli, pintor italiano renascentista, que em seus quadros retratava mulheres cheias de curvas, humanas e possíveis.
É isso! Somos humanas e lindamente possíveis então pra que procurarmos um padrão que não é o nosso? Eu, quando dou estas loucas de que tenho que ser a miss magreza do pedaço, tomo um banho, coloco um vestidinho que me favoreça e passo de frente a uma obra de construção. Nada que um sonoro: “gostosa” não resolva!

Luciana Barbosa.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Cabelo.



Itamar era um ser extremamente divertido e amoroso. Bem ligado à família, só tinha uma coisa que incomodava: Era metódico. Seu apartamento era limpo e arrumado, sua mesa no trabalho, mesmo nos piores dias, era organizada e clean, sempre mantinha tudo na mais perfeita ordem até com sua vida sentimental. Não se importava se estava sozinho ou acompanhado, ou se iria envelhecer sozinho. Ele gostava da sua vida seguindo o curso normal e sem grandes surpresas.
Tinha um topete que era sua marca registrada e gastava rios de dinheiro pra manter o cabelo sempre bonito e arrumado, era sua obsessão.
Um dia, depois de um dia exaustivo de trabalho, ele entrou em seu carro e saiu distraído quando viu um cabelo longo e loiro preso no limpador do pára-brisa. Ficou prestando atenção nos movimentos que ele fazia, era como uma dança ritmada e cheia de sedução, o sol batia no fio fazendo ele brilhar e parecer ainda mais bonito aos olhos de um encantado Itamar.
A primeira reação de qualquer ser desprovido de poesia seria retirar o fio e jogá-lo fora, mas não ele. Sabia ver as belezas ocultas da vida e amou tanto aquele fio dançando na sua frente que passou a cuidar para que ele se mantivesse ali, firme pelos caminhos que ele fazia no dia-a-dia.
Aliás, ele até mudou o trajeto que fazia sempre, para escolher ruas mais sinuosas que proporcionassem movimentos bem mais interessantes para aquele fio de cabelo.
Divertia se imensamente quando estava dirigindo e olhando aquele balé cheio de nuances até que começou a perceber, depois de duas semanas, que o fio começara a desprender-se. Sentiu o coração pesar. Como poderia viver sem aquela distração diária, sem o brilho daquele fio? Passou a andar mais devagar e ser extremamente cuidadoso para que o fio não se desprendesse tão rápido, mas era inevitável. O fio mais dia menos dia iria voar e ele não achava prudente prendê-lo porque aí sua dança perderia a naturalidade e beleza.
E como pressentido num dia de ventos mais fortes, o danado alçou vôo. Fez uma pirueta, deu uma enroscada no ar e sumiu. Parou o carro e ficou ali, olhando para o nada, com aquela sensação estranha de um vazio sem explicação.
Depois do ocorrido, Itamar voltou para sua vida metódica e previsível novamente. O único resquício que sobrou daquele fio bailarino são os suspiros que vez ou outra se escuta quando lhe ocorre as lembranças do inusitado balé.

Luciana Barbosa.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Meus Votos de Casamento!


Amor...pra vc...

Meu amor...

Até eu encontrar você eu era metade e como metade que era, vivia por vezes me sentindo vazia ou incompleta.
Até encontrar você eu buscava perfeição onde não existia e apostava em histórias erradas porque no fundo sabia que envelhecer sozinha seria extremamente triste.
Minha sorte foi sempre acreditar que o amor existia ...
Até que dobrei meus joelhos no chão e pedi que Deus me desse um companheiro....
Alguém pra caminhar lado á lado...
Pra construir....
Pra acreditar....
Pra me fazer sorrir...
Pra agregar valores e pra fazer da minha família a sua, assim como eu tomar a sua como minha e ser tão bem recebida...
Obrigada por ser assim....exatamente assim...
Não posso prometer nada, porque somos humanos e falhos.
Mas faço dos meus braços á partir de hoje sua morada e aconchego.
Faço das minhas palavras alento e alegria para todas as horas.
Faço do meu caminho o seu e vou procurar sempre te olhar com o amor necessário, a admiração necessária e ter a força necessária para crescermos sempre mais em caráter e em amor.
Prometo que nossa premissa será a conversa e que o respeito estará sempre presente como sempre esteve em nosso caminho.
Bendito seja aquele 31 de agosto e bendito seja você ...
E é por isso que á partir de agora você será para sempre meu único amor...
Te amo!
Luciana Barbosa 14/11/2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Respire!!




Todos nós em algum momento queremos modificar tudo a nossa volta, ou melhor, em nossa vida. Queremos mudar de emprego, de companheiro, de amigos, de cidade, enfim, recomeçar tudo.
Eu mesma, numas dessas minhas crises existenciais, ouvi de alguém próximo que não adianta mudarmos de lugar ou de pessoa porque o problema vai continuar onde ele sempre esteve: Dentro de nós.
E isso foi como um tapa me dizendo:
- Acorde!
A nossa vida depende das nossas ações e nosso tempo para ser feliz é agora, meus queridos. Tem horas que queremos que tudo melhore e aconteça como que por um milagre. Esperamos, mas não colaboramos.
Existem pessoas que vivem na esperança de serem felizes no futuro. “Quando eu comprar um carro novo vou ser feliz... quando eu me casar ou em certos casos me separar vou ser feliz... quando eu me formar...” e por aí vai. O tempo pra ser feliz é agora!
Pare, respire e veja a beleza que acontece a todo o momento, em sua vida.
O milagre já existe quando você consegue abrir seus olhos, isso quer dizer que já foi um dia a mais em sua vida, talvez o último, porque não temos um cronograma exato do dia nem da hora da nossa morte, ela pode chegar a qualquer momento.
Por isso aproveite!
Seja menos ranzinza, menos amargo, seja mais amigo, mais amante, sorria mais!
Tem gente que desperdiça uma vida inteira reclamando, se preocupando com a vida alheia e olhando para o próprio umbigo como se o mundo girasse só ao seu redor. Seja um ser humano mais digno, um amigo leal, um amor dedicado e um colega de trabalho exemplar.
Não é fácil. Então não se iluda que ao tentar ser melhor tudo irá se resolver como num passe de mágica. O processo é lento e os tropeços, muitos. Mas compensa.
Quem vive amargurado, sempre de mal com a vida é quem perde, inclusive, a chance ter uma vida melhor, mais leve e descomplicada. A Felicidade é um caminho que pode e deve ser escolhido.
Viver vale a pena, sonhar vale a pena, mas também correr atrás dos seus sonhos é fundamental para que tudo realmente aconteça.
Então quando tudo parecer insuportável e você tiver vontade de dar um basta.
Respire!
Pense com calma, reveja seus conceitos e conte até dez, até mil se preciso for, porque o importante nessa vida é ter a consciência como dizia Lao Tse, que uma grande caminhada começa com o primeiro passo.

Luciana Barbosa

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Otacílio.



Otacílio vivia no seu ostracismo proposital. Não tinha paciência com gente, aliás, tinha preguiça pra ser mais preciso. Aquela indecisão do ser humano acabava com ele, acreditava que não tinha que viver a procura constante da felicidade e que se existisse inferno ele seria aqui mesmo, na Terra.
Na verdade ele era um velhote ranzinza e cheio de manias, estava no alto dos seus sessenta e oito anos e nunca havia se casado ou mesmo morado com alguém que não fosse os pais e uma irmã. Como sua irmã havia se casado há muitos anos e os pais já tinham falecido, também há algum tempo, ele vivia sozinho num casarão cheio de relíquias e poucas recordações.
Margareth, a irmã, se sentia na obrigação de ir visitá-lo e já não levava os filhos que agora eram homens feitos. Há alguns anos ela e o irmão, tiveram uma briga, pois ele afirmara para quem quisesse ouvir, que não tinha jeito e nem gostava de crianças, mesmo que fossem seus sobrinhos. Ela desconfiava que ele não gostava nem de si e tentava há tempos amolecer aquele coração de pedra.
Otacílio trabalhava numa repartição pública e a única coisa de que gostava era bater seus carimbos e arquivar pastas naqueles armários pesados e frios. Só tinha algo que o tirava do seu mundinho particular e mexia com seus brios. Ele não suportava ser desafiado e isso a irmã aprendera cedo. Se queria algo dele, já dizia logo:
_ Duvido que você faça isso!
A resposta vinha de imediato e ele se sentia na obrigação de provar que conseguia fazer qualquer coisa. E foi assim que aconteceu a aposta da tal planta. Ela disse a ele que, de tão egoísta, não conseguiria conviver nem com uma planta e cuidar dela até florescer.
Ele se sentiu ofendido e desafiado e estava feita a aposta. Margareth poderia trazer a planta e ele a faria florescer. Assim feito, a pequena flor de maio passou a viver naquela casa sem nenhum aconchego, parecia mais objeto perdido, fora de lugar.
Otacílio a princípio se esmerava para cuidar da tal planta, ele a colocava ao sol, regava, só não conversava porque aí, já era demais. Nas primeiras semanas até que tentou fazer tudo direitinho, mas a irmã tinha razão e ele foi voltando ao seu mundinho e certo dia esqueceu a planta lá no corredor da casa, jogada à própria sorte.
Dias ao sol e a delicada planta não resistiu, no vaso um pé de mato, daqueles bem sem vergonha tomou conta e começou a dar várias pequenas flores amarelinhas, que pareciam saltar de tão alegrinhas.
Certo dia ele passando pelo corredor viu aquela cena. O vaso sem a flor de maio que a irmã levara e cheia daquele matinho insosso pelo qual ele imediatamente se apaixonou.
Isso mesmo, caro leitor. Otacílio passou a conversar, regar e idolatrar aquele pezinho de mato que crescia alegremente no vaso. Achou suas flores perfeitas e improvisou um pequeno vaso na sua mesa da repartição que era sempre abastecido com galhos pequeninos das tais flores.
Agora ele era outro homem, a vizinhança recebia sorrisos animados, a irmã, visitas aos domingos e aos sobrinhos, presentinhos tardios.
Acreditando que a beleza está nos olhos de quem a vê, a doçura na vida de Otacílio chegou da forma mais inusitada, mas muito bem vinda.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

O amor nos tempos pós-modernos.



Acordou e ficou se revirando na cama naquela preguiça de quem não sabe se dormiu o suficiente, aliás, para ela o sono nunca era suficiente e achava que tudo deveria começar a funcionar sempre ao meio-dia. Havia saído na noite anterior com um paquera e bebido algumas a mais pra ver se achava a conversa pelo menos um pouco interessante e agora restava aquela ressaca moral, que é pior que o gosto de cabo de guarda chuva que uns goles a mais provoca.
Colocou o pé para fora do edredon, girou o corpo bem devagar e sentou-se com dificuldade. O difícil não era a noitada e sim o outro dia, pensou no quão penoso seria o que tinha à frente e levantou de uma vez, o que não tinha remédio, remediado estava.
Passou pelo espelho do quarto arrastando uma toalha e decidiu que já não tinha mais idade pra aquilo, estava literalmente cansada da busca da sua cara metade, tudo o que ela andava encontrando por aí era alma que geme e não alma gêmea como deveria ser.
E olha que ela já tinha baixado o nível de exigência. O caboclo em questão podia até ter uma barriguinha, desde que não fosse aquele exagero, a cultura podia se limitar a um filme de vez em quando e um livro por semestre, fazer o quê? O mercado não estava pra peixe grande, então ela estava se adaptando aos lambaris. Mesmo assim ela sentia aquele vazio, aquela procura idiota de quem não se sente bem sozinha, só faz de conta para os amigos e já trás o discurso pronto que antes só do que mal acompanhada.
Ali debaixo do chuveiro, ela se deu conta de que algo deveria mudar. Analisou seus últimos relacionamentos e constatou que o problema não era ela e sim os homens! E se o problema era com eles, talvez estivesse no caminho errado.
Saiu do banheiro, passou novamente pelo espelho e já viu outra imagem, era bonita, aquela beleza comum, mas carregada de simpatia e bom humor, sempre ganhava pontos com isso. Foi se olhando nua e aí sua mente deu um estalo. Gostava da estética feminina, então porque não experimentar o mesmo lado? Já que ela era uma mulher pós- moderna, tinha toda liberdade de fazer o que bem entendesse afinal, os sutiãs não foram queimados á toa na praça pelas suas irmãs feministas, ela tinha mais é que aproveitar.
Pensou que a coisa tinha que acontecer naturalmente, mas que ela daria uma mãozinha para o destino. À noite se arrumou toda e foi para uma boate GLS com
amigos em comum, já que adorava dançar e aquele não era um ambiente estranho para seu mundo.
Lá conheceu uma menina, super bonita, feminina e que nunca diriam que era lésbica e aprendeu que isso era estereótipo que montam independente da opção sexual cada um se veste do jeito que quer.
Deixou a paquera rolar solta e aí veio o beijo. No começo até curtiu, ficou excitada com o novo e com o toque, mas quando a coisa esquentou, peito com peito, coxa com coxa, ela acordou. Sentiu falta daquela pegada mais forte, do cheiro e da protuberância masculina. Empurrou a menina delicadamente e fez aquela caretinha de desculpa aí, não era nada disso.
Foi para o bar e tomou num gole só uma dose de vodka, dançou até se acabar e saiu de lá feliz. Ficou certa de que ela realmente gostava de homens, mas que era pós- moderna o bastante para beijar quem ela bem entendesse.

Luciana Barbosa.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Honestidade dói!



Ser honesto cansa, incomoda, corrói. E não, não estou falando de terceiros, estou falando de nós mesmos. Eu particularmente gostaria de ser desonesta. É mais fácil e não desgasta. Alguém já ouviu falar de uma pessoa naturalmente desonesta que se incomode com cobranças? O fulano, consegue passar por você, mesmo que te deva, com o sorriso mais sincero e ainda te cumprimentar da forma mais amiga com tapinhas nas costas.
Mas, vamos além! Honestidade está intimamente ligada á ética e é aí que a coisa complica. Não dar conta de roubar, de trair, de dever e não se preocupar, porque atire a primeira pedra quem nunca se descontrolou financeiramente ou se viu apertado sem grana sobrando.
A honestidade aliada à ética te faz perder noites de sono pra tentar achar caminhos alternativos para não prejudicar e nem lesar ninguém, pode até demorar, mas o honesto faz questão de saldar todas as suas dívidas. Me impressiona quem consegue dever, colocar a cabeça no travesseiro e ter uma noite de sono, mais que tranqüila.
Lógico que somos tentados todos os dias, porém não justifica! Admiro quem acha essas altas quantias em dinheiro e devolve por vontade própria. Porque já tentei me colocar no lugar por diversas vezes. Eu nesse aperto sem fim e uma mala com dez mil que fosse, devolveria, mas assumo com o coração doendo. Com o tempo e com o ato consumado tenho certeza de que me sentiria heroína nesse mar de lama.
Sejamos heróis, vamos nadar contra a corrente e fazer a diferença. E não estou fazendo discurso demagogo, é que quero um mundo melhor para viver, voltar a confiar nas outras pessoas e não me sentir tola por querer fazer algo que aprendi na infância, porque a partir do momento que mudarmos nossa visão de mundo e nos colocarmos no lugar da outra pessoa, aí melhoraremos.
Eu sei que não é fácil e que hoje está complicado ganhar o nosso da forma mais correta, porém digo: a honestidade com certeza dói mas eu vou preferir pelo menos nessa vida aqui, ser honesta, pois quem nasceu pra ser mocinho não consegue se esbaldar com a bandidagem.

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O Baque!


Ficou ali balançando as pernas como se fosse a coisa mais natural do mundo e até seria, se ele não estivesse sentado no beiral de um prédio com treze andares. No princípio sentiu vertigens e aquele frio no estômago, depois, como tudo na vida, foi se acostumando e se perdeu em pensamentos que iam e vinham.
Tentou fazer uma agenda mental daqueles trinta e quatro anos: Era filho de uma mãe desestruturada emocionalmente pela vida e por ela mesma; o pai por sua vez era um Dom Juan de boteco que, depois de algumas doses, não conseguia manter o mínimo de dignidade pra ele e quem diria pra família.
Ele sempre foi um mundo à parte. Quando nasceu já destoou, cabelos muito negros e a pele muito branca, olhos cor de mel, segundo a avó parecia filho de rico que já nasce assim: bonito. Apesar de viver em meio à pobreza e aí não me refiro só a material, ele tinha um gosto apurado para artes, leitura e música. Aprendeu sozinho aos cinco anos como juntar as letras e formar as palavras. Vivia calado lendo o que lhe caía nas mãos, até embrulho de jornal velho.
Cresceu se sentindo um ser de outro mundo e aos quatorze anos já trabalhava fora para garantir pelo menos a condução para a escola. Fazia questão de estudar para tentar uma sorte melhor e um final mais feliz que de seus progenitores. Ele sabia que sua vida não dependia de sorte, mas sim de esforço próprio.
Voltou os olhos para a multidão lá em baixo e deu um sorriso triste. Lembrou-se do quanto somos cheios de energia e sonhos quando jovens. Achamos que podemos consertar o mundo, inclusive o nosso. Todas aquelas pessoas num movimento frenético e pra quê? Hoje ele se perguntava isso, sentado ali naquele beiral.
Ele havia corrido, estudado, sonhado e até progredido daquela família lhe imposta pelo destino. Havia se formado aos 28 anos com muito custo e uma meia bolsa em Administração de Empresas e conseguiu um emprego num banco, achava que agora a vida estava começando a ser justa com ele. Sabia que as coisas viriam devagar, porém sua vida já estava sendo escrita de uma forma diferente.
Dizem que o amor modifica a vida das pessoas e ele concordava com isso. Aos trinta e um anos conheceu a mulher que mudaria todo o seu rumo, toda a sua estrutura e caráter. Ela era uma morena linda e muito sensual, já trabalhava no banco há dois anos e ele descobriu que o antigo namorado havia sofrido um surto psicótico quando ela não aceitou a proposta de casamento dele. Estava incomunicável em uma clínica de repouso com seqüelas graves.
Num primeiro momento pensou que aquela mulher não era para o bico dele e se limitava a respirar mais forte quando ela passava para sentir seu melhor o seu perfume. E de fato ela nunca prestou atenção nele até o dia em que ele ganhou uma promoção e passou a ser o gerente do setor financeiro.
Algo mudou e ela passou a sorrir quando passava pela sua mesa, a dar bom dia, chamar para um cafezinho no meio do dia. Os amigos mais próximos tentavam chamá-lo a razão mostrando o quanto ela era interesseira. Mas ele sempre respondia que não a culpava por querer algo melhor, ele mesmo agiu assim quanto à sua vida. Começaram a sair e ele passou a respirar o mundo dela. Ela tinha gostos apurados e conseguia o que queria com seus bicos e manhas. Ele queria colocar o mundo nos seus pés e não queria perdê-la por nada. De um homem centrado e focado no seu futuro ele passou a ser descontrolado emocional e financeiramente.
O simples fato de pensar que ela poderia sair da sua vida lhe tirava o sono. Ele a enchia de mimos e cuidados o tempo inteiro e quando percebeu que não poderia levar isso durante muito tempo, já estava no terceiro empréstimo. O seu lado sensato indicava que aquele teria que ser o fim daquele relacionamento, mas seu coração se recusava a sequer cogitar isso.
Estava ficando complicado trabalhar e cumprir as metas. Ele estava pensando em como conseguir dinheiro para pagar suas dívidas e conseguir respirar em paz novamente quando ela entrou na sua sala. Fez aquele beicinho de quem vai pedir algo e disse que no fim de semana gostaria que fossem à praia com uns amigos dela. Se ele não pudesse, ela iria sozinha.
Ele não imaginava um fim de semana sem ela, ainda mais na praia rodeada por outros homens. Disse que só iria terminar uns lançamentos e que mais tarde conversariam. Ela sorriu com aquele jeito maroto e saiu. Ele tinha que arrumar dinheiro de qualquer forma.
Tentou concentrar a cabeça no trabalho e esquecer aquilo tudo por uns instantes, até que percebeu um erro na conta do seu cliente, o sistema havia tirado alguns centavos há mais do seu saldo total. Com certeza o cliente nem perceberia, mas se continuasse assim ao fim do dia estaria passando uma quantia alta em seu caixa. Pegou o telefone para ligar para o help-desk do banco para corrigirem o erro e enquanto chamava ficou olhando para a tela. De repente sua cabeça deu um estalo e desligou o fone antes de atenderem. E se ele desviasse aquele montante para uma conta fantasma? Seria a solução dos seus problemas para a falta de dinheiro. Recuou diante do pensamento achando que estava ficando louco, mas a tentação foi maior.
Do pensamento à ação foi um pulo, tudo ocorreu rápido demais. O golpe, os gastos excessivos, a euforia e o pesar. Rápida também foi a descoberta do banco que rastreou tudo facilmente já que ele não era nenhum profissional na arte de roubar. Ele percebeu o movimento e sabia que iriam prendê-lo naquele dia mesmo. E o mais interessante é que o burburinho já devia estar correndo entre os funcionários do banco porque a mulher por quem ele havia feito aquilo tudo nem olhava mais para ele já há alguns dias.
Agora ele estava ali contemplando a morte. Deu mais uma tragada no cigarro que acabara de acender e vislumbrou as luzes da cidade. Não havia mais nada a fazer e nem o que pensar, ele não conseguiria passar sua vida numa cadeia por um erro estúpido.
Arqueou o corpo e novamente sentiu aquela vertigem, fechou os olhos e se jogou no espaço vazio que se tornara sua vida. Nem gritou. Dele só restou o baque do corpo no chão e a certeza que sua vida não era nenhuma novela e que nem sempre os finais são felizes.
Luciana Barbosa.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cinderela às avessas.


Ela era assim, um metro e quanto de gente? Não sei. Só sei que não chegava á um metro e sessenta. Quanto de verdade ela não dizia de jeito nenhum, mas também não interessava, sua estatura dobrava quando se conversava com ela, o coração era enorme e o sorriso também.
Carolina mais conhecida como Carol era daquela s mulheres pequenas, contudo guerreira.
Parecia uma bonequinha, dessas que a gente compra pra guardar na coleção e viver admirando, porém não se enganem. Não era nada delicada na forma de falar e vivia colocando pra fora um tanto bom de palavrões que fazia corar os mais tímidos e divertir os mais moderninhos.
Já namorava há algum tempo, aliás, um longo tempo. Cinco anos e por diversas vezes carregava o relacionamento nas costas. Queria fazer dar certo e encafifou que era hora de se casar. Estava na época com vinte e cinco anos e um futuro promissor pela frente que ela ainda não enxergava.
Ela já havia perdoado traição, falta de interesse, falta de grana, tudo porque achava que ele era o amor da sua vida. É a mania que temos de querer enxergar algo que não existe e consertar aquilo que não tem conserto. Sempre pensamos que se não for isso, não há como encontrar nada melhor, isso não só para amor, mas para outras coisas na nossa vida que não nos completam.
Com a idéia do casório na cabeça, fez pressão, chorou, argumentou, entretanto de nada adiantou. Ele achava que era ela, porém que não era a hora certa para aquele passo. Aí um dia ela cansou e deixou todos com o queixo caído, terminou o namoro sem maiores lamentações e sem volta.
Hoje, depois de passados cinco anos, ela já teve outras experiências, outros amores, outras dores e sobreviveu a todas. Sabe que o importante da vida é se amar primeiro para depois amar o outro e que a vida continua, mesmo que não siga o curso que achamos que ela deveria tomar.
Hoje ela está noiva e “muito bem obrigada”! Mudou-se para Angola para trabalhar e levou seu companheiro junto. Cheia de planos, ela espera voltar no começo do ano e se casar com toda pompa e circunstância.
Afinal ela pode ser moderninha, mas não dispensa a cerimônia que ela tanto sonhou com amor que ela tanto esperou.

Luciana Barbosa.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Felicidade é estado de espírito.


Ainda me impressiona quem acha que felicidade depende de advento externo. Felicidade é estado de espírito e somos nós os responsáveis por cultivá-la e alimentá-la.
Tudo bem, você deve estar de saco cheio de ouvir isso, mas pense bem: nós sempre colocamos a nossa felicidade nas mãos de outras pessoas ou de realizações futuras. Só há um tempo para ser feliz e esse tempo é agora, isso já foi dito e escrito por aí várias vezes, só reafirmo.
Meus caros, não esperem a casa nova, a faculdade, o carro, aquele amor que você tanto sonha. O momento é agora e com o que temos. Cada um no seu estilo. Pode ser melhor, se souber identificar o que tem e trabalhar a favor.
Se sua casa não é a casa dos sonhos, melhore o que tem. Faça um pequeno jardim, coloque vasos, mude os móveis de lugar, acenda um incenso, troque a energia do lugar.
Não fique sonhando com o homem ou a mulher perfeita, eles não existem. Nem você é perfeito. Aprenda a conviver com pequenos defeitos, ele podem ser até divertidos e quebram com certeza a rotina. Não perca tempo discutindo por pequenas coisas, isso consome tempo e acarreta o crescimento de grandes mágoas.
Não se esqueça de que sonhar é preciso, mas que trabalhar para a realização destes sonhos também. Planeje sua vida, pare de fazer contas descontroladamente. Isso não vai melhorar a sua auto-estima, só vai fazer você não sentir a sensação do quanto viver é bom. Não conheço ninguém decente que consegue ficar feliz com contas vencidas e nenhuma possibilidade de quitá-las.
Seja criativo! Isso ajuda você a ser pró- ativo, a se relacionar melhor com as pessoas e ser mais empreendedor. Vista roupas com cores diferentes, experimente novos sabores, aprenda a dançar, cante mesmo que desafinado. E ria! Muito e sempre. Pessoas felizes são mais gentis e conseqüentemente, melhores. Não conheço uma pessoa verdadeiramente boa que não seja excelente profissional também.
Se presenteie todo mês, porém com pequenos presentes que fazem bem a alma e não que podem te dar status como aquele carro do ano. Sorvete na praça, cinema no meio da tarde, conversar horas com aquele amigo que você nunca tem tempo pra vê-lo, um livro que te faça pensar, aquele chocolate maravilhoso ou aquela cervejinha no final da tarde. Isso sim são presentes para a alma.
Repito: Felicidade é estado de espírito! Seja mais leve. Simplifique!
Lembre-se que nós não sabemos o tempo que temos por aqui então viva, mesmo que não seja fácil sempre.
Luciana Barbosa

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crônica do Amor Improvável



Se a vida não é óbvia quem diria o amor!
Tinham tudo para não combinarem, ela mais velha, cheia de pequenas manias que os solitários cultivam, ele, ainda na casa dos pais com a mãe ligando na madrugada pra saber se iria dormir em casa ou não.
Ela era cheia de experiências amorosas mal sucedidas e trazia no fundo a certeza que iria viajar pra Europa quando envelhecesse com uma dessas excursões da terceira idade. Achava-se moderna suficiente para não se prender à convenção do amor; amava os filhos, os amigos, tinha dias que se amava incondicionalmente e amava o simples fato de estar viva, mas, lá no fundo incomodava-se com as histórias vazias que carregava na bagagem, e mesmo sem admitir, sonhava com o amor convencional.
Ele, depois de um único relacionamento de três anos, quando se viu na condição de solteiro novamente quis aproveitar a vida. Cerveja, botecos, amigos e a moça da vez. Isso, por que não queria nada fixo, nada duradouro e enchia o peito para afirmar para quem quisesse ouvir que era um solteiro convicto.
Afirmou isso até pra ela, na terceira vez que se viram e ela balançou a cabeça afirmativamente num gesto de quem não estava nem um pouco preocupada. Ele não seria o homem que ela imaginara para sua vida, não era aquele companheiro que ela desenhava com todo cuidado e pintava com as cores da mente.
Criava toda a cena: ele chegando em casa e contando para os pais, que estava namorando uma mulher nove anos mais velha, que já havia sido casada e tinha um casal de filhos sendo que a mais velha já tinha dezoito anos. Podia ver a pretensa sogra dando taquicardia, enchendo os olhos de lágrimas e se lamentando pelo futuro do filho, o pai todo cuidadoso chamando o filho para uma conversa de homem para homem e dizendo que ele merecia mais para seu futuro. Era um amor improvável. Então não havia com o que se preocupar.
Mas a questão já era essa, o encontro casual dos dois durante uma viagem de feriado prolongado em que só alguns se conheciam, o primeiro olhar e aquela afinidade instantânea, o passar de mão nos cabelos, o primeiro beijo e o destino traçado a partir daquele momento, nunca mais seriam solteiros, convictos ou não. Se fossem românticos tradicionais poderiam dizer que foi amor à primeira vista, mas isso não iriam admitir, achavam piegas esse senso comum.
Hoje, trocam por apelidos açucarados como todo casal que se preza, riem das mínimas coisas e não levantam, nunca, a voz um para o outro, nem quando algo não está a contento. Passam a noite conversando e relembrando que, nem ela, nem ele, acreditavam que amor assim fosse possível, a não ser nas telas dos cinemas e a única preocupação agora são os preparativos do casamento que esta por vir.
Ah, e quanto aos sogros, não se preocupem, é como o filho: prezam pela felicidade e não são presos às convenções.
Ela agora não tem dúvida de que improvável é só aquilo que não deixamos acontecer pelo simples medo de viver.


Luciana Barbosa.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Hj é meu aniversário...36 e me sinto a pessoa!!!rsrs
Hj tive um presente divino que em outra ocasião conto...mas que me fez voltar os meus olhos mais ainda para o céu e dobrar meus joelhos no chão!
Sou extretamente feliz e amada... e mesmo estando meio debilitada por problemas de saúde acredito que vale a pena viver e mais ainda acreditar nas possibilidades!
Tenham fé sempre...
E ela pode vir de várias formas..só tem que se manifestar!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Baú. ( Conto )

Cotinha olhou para os lados procurando sabe se lá o quê. Virou a cabeça de um lado para outro e começou a assoviar uma canção de roda que aprendera com a mãe e disparou a rir sozinha, aquele riso maroto de quem está prestes a fazer uma traquinagem. Olhou para o chão e viu uma pedrinha com um formato diferente e a apanhou, abriu o pequeno baú que trazia nas mãos, limpou a pedrinha na barra do vestido e a colocou lá dentro junto a outras pequenas bugigangas que ela agora colecionava.
Aquele baú tinha um significado especial para Cotinha. Ali encontravam-se seus achados mais preciosos porque foram vislumbrados com os olhos da alma e para ela eram pequenos tesouros. Pedrinhas, anéis de latas de refrigerantes, um pequeno espelho trincado entre tantos outros objetos. Mas, o que Cotinha adorava naquele baú era a foto de um moço que ela havia achado entre as fotos de família e surripiado sem que ninguém visse.
Era uma foto antiga, daquelas que o tempo já amarelou. Apesar de ser preto e branco ainda se delineava os traços bonitos daquele rapaz e ela às vezes perdia a noção do tempo, ficava admirando aquele rosto por horas a fio como se ele fosse um antigo conhecido. Era mais que uma imagem, mas ela não conseguia explicar o que se passava dentro do peito. A foto só perdia espaço no seu coração para as pedrinhas de jogar baliza. Cada uma escolhida a dedo no quintal para encaixar perfeitamente em sua mão. Era seu jogo solitário preferido, gostava de ver as pedrinhas sendo lançadas ao ar e a habilidade que tinha para não deixar que elas caíssem.
Cotinha levantou novamente o olhar, dessa vez procurando no quintal aquela goiabeira que vivia abarrotada de frutos, devia ser hora do almoço e sua barriga estava fazendo aqueles barulhos engraçados que só as barrigas com fome fazem. Conseguiu ver de longe a árvore e saiu saltitante em direção a ela.
Parou um instante para descansar debaixo de uma mangueira frondosa e apanhou algumas folhas antes de se sentar. Amava o cheiro das coisas e achava que algumas tinham o cheiro trocado. Deus tinha se cansado de inventar cheiros e os usava em mais de uma coisa, dizia.
Um exemplo era o Jatobá. Adorava aquela massa grudenta, mas não suportava o seu cheiro de chulé. Aquilo parecia mais o cheiro de um sapato usado sem meias por dias do que uma fruta inventada por Deus.
Por outro lado, a mangueira tinha o cheiro de manga, o cajueiro, de caju e a erva cidreira, de chá, daqueles de fim de tarde que acompanhavam os famosos bolos de fubá de sua amada mãe.
Levantou se devagar. Ultimamente estava se sentindo cansada e às vezes tinha a impressão que dormia dias a fio. Devia ser anemia ou mais uma maluquice da sua cabecinha de vento que queria fazer tudo ao mesmo tempo.
Pegou seu baú com cuidado e saiu admirando as Marias-sem-vergonha que cresciam por todo o quintal. Aquelas florzinhas pareciam que nasciam do nada e davam um colorido todo especial ao lugar. Ela particularmente amava as vermelhas e vivia enchendo o cabelo com porções delas.
Finalmente chegou à goiabeira e pegou a primeira fruta que sua mão alcançou, mordeu com gosto a goiaba, mas não achou que estava nem macia e muito menos suculenta.
Pôs-se a olhar para cima, tentando identificar ali de baixo mesmo, uma fruta melhor. Seus olhos cresceram para o alto da copa e numa mistura de contentamento e excitação pelo achado, exclamou batendo palminhas:
_Nossa, que bitela!!!
Deu uma analisada rápida no tronco da árvore para descobrir por onde seria mais fácil subir. A goiabeira era antiga, todavia não muito alta, não ia ser tão difícil.Tirou dos pés os chinelinhos e enrolou um pouco o vestido para não enroscar na subida. Colocou as duas mãos num galho e quando levantou a perna ouviu uma voz atrás dela:
_ Mãe, por favor! Estou te procurando há horas. Você vai se machucar assim.
Cotinha largou as mãos da árvore e ficou irritada com o comportamento da mãe. Achava que ela estava ficando doente ou fraca da cabeça. Nós últimos tempos ela andava acreditando que Cotinha é que era a mãe e de vez em quando a chamava assim. Ainda sem se virar Cotinha retrucou:
_ Não me chame assim! Isso me irrita.
Leonor sorriu e respondeu com calma:
_ Desculpe-me, prometo não fazer mais isso se você não sumir assim. Vamos voltar e preparo para ti um belo chá.
Cotinha nem se lembrou da rusga e respondeu:
_ Só se tiver bolo de fubá!
Leonor assentiu com a cabeça e deu o braço para voltarem para a casa. Assim, caminhando em silêncio ela ouvia o barulho da passarada no quintal e dava vazão aos seus pensamentos e angustias.
Desde que a mãe adoecera, os papéis se inverteram. Os sintomas do Alzheimer a levaram novamente para sua fase de meninota, que ainda corria pelo quintal. Leonor preferia ver a mãe assim a, nos dias em que ficava ausente, muda, como se a alma tivesse abandonado o corpo sem nenhum aviso.
Quando chegaram em casa, Leonor tentou ajudar a mãe a tomar banho mas , esta se recusou dizendo que já era uma mocinha e sabia se lavar muito bem sozinha. Combinaram então que Cotinha não trancaria a porta do banheiro, e assim feito foi para a cozinha assoviando uma velha canção de roda que aprendera com sua avó.
Preparou o bolo com todo cuidado e o colocou para assar. Fez o chá com erva cidreira e ele por sua vez perfumou toda a casa. Colocou numa caneca o líquido fumegante e encaminhou-se para o quarto da mãe. Entrou devagar e percebeu que ela já havia dormido abraçada ao baú que tanto amava.
Ajeitou sua cabeça no travesseiro e retirou o baú bem devagar para que não acordasse. Ela precisava descansar.
Abriu aquele velho baú com cuidado e no mesmo momento seus olhos se encheram de lágrimas. No meio de tantos objetos sem valor, estava a foto de seu pai ainda moço.
Os sintomas da doença fizeram perdidos para Cotinha um tempo e lembranças que não voltariam. Mas, entre seus achados mais preciosos estava a foto de um homem que foi seu amor por toda uma vida, seu companheiro mais fiel e que nem a doença conseguiu aniquilar.
Leonor fechou o baú, deixou-o ao lado da mãe e saiu bem devagar. Sabia que nunca entenderia o real significado da vida e muito menos do amor.

Entre, a casa é sua!

Criei esse espaço pq sei da solidão dos homens!

Sei da minhas dores e compadeço das dores alheias.

Sei que têm horas que nada acalma, nada passa, tudo doi.

Mas tb sei que sempre têm o dia seguinte, que os ciclos se fecham e começa outro mesmo que demore uma eternidade.

Somos guerreiros, somos capazes e a resposta ainda está no amor!

Sim! Ame muito e sempre mais, seja apaixonado pelo seus projetos, por sua vida, pelas pessoas.

A resposta mais simples para se viver bem e sermos melhores.

O espaço está aberto pra troca de experiências e aos poucos vou colocando os rascunhos que minha alma produz