terça-feira, 19 de agosto de 2008

O amor nos tempos pós-modernos.



Acordou e ficou se revirando na cama naquela preguiça de quem não sabe se dormiu o suficiente, aliás, para ela o sono nunca era suficiente e achava que tudo deveria começar a funcionar sempre ao meio-dia. Havia saído na noite anterior com um paquera e bebido algumas a mais pra ver se achava a conversa pelo menos um pouco interessante e agora restava aquela ressaca moral, que é pior que o gosto de cabo de guarda chuva que uns goles a mais provoca.
Colocou o pé para fora do edredon, girou o corpo bem devagar e sentou-se com dificuldade. O difícil não era a noitada e sim o outro dia, pensou no quão penoso seria o que tinha à frente e levantou de uma vez, o que não tinha remédio, remediado estava.
Passou pelo espelho do quarto arrastando uma toalha e decidiu que já não tinha mais idade pra aquilo, estava literalmente cansada da busca da sua cara metade, tudo o que ela andava encontrando por aí era alma que geme e não alma gêmea como deveria ser.
E olha que ela já tinha baixado o nível de exigência. O caboclo em questão podia até ter uma barriguinha, desde que não fosse aquele exagero, a cultura podia se limitar a um filme de vez em quando e um livro por semestre, fazer o quê? O mercado não estava pra peixe grande, então ela estava se adaptando aos lambaris. Mesmo assim ela sentia aquele vazio, aquela procura idiota de quem não se sente bem sozinha, só faz de conta para os amigos e já trás o discurso pronto que antes só do que mal acompanhada.
Ali debaixo do chuveiro, ela se deu conta de que algo deveria mudar. Analisou seus últimos relacionamentos e constatou que o problema não era ela e sim os homens! E se o problema era com eles, talvez estivesse no caminho errado.
Saiu do banheiro, passou novamente pelo espelho e já viu outra imagem, era bonita, aquela beleza comum, mas carregada de simpatia e bom humor, sempre ganhava pontos com isso. Foi se olhando nua e aí sua mente deu um estalo. Gostava da estética feminina, então porque não experimentar o mesmo lado? Já que ela era uma mulher pós- moderna, tinha toda liberdade de fazer o que bem entendesse afinal, os sutiãs não foram queimados á toa na praça pelas suas irmãs feministas, ela tinha mais é que aproveitar.
Pensou que a coisa tinha que acontecer naturalmente, mas que ela daria uma mãozinha para o destino. À noite se arrumou toda e foi para uma boate GLS com
amigos em comum, já que adorava dançar e aquele não era um ambiente estranho para seu mundo.
Lá conheceu uma menina, super bonita, feminina e que nunca diriam que era lésbica e aprendeu que isso era estereótipo que montam independente da opção sexual cada um se veste do jeito que quer.
Deixou a paquera rolar solta e aí veio o beijo. No começo até curtiu, ficou excitada com o novo e com o toque, mas quando a coisa esquentou, peito com peito, coxa com coxa, ela acordou. Sentiu falta daquela pegada mais forte, do cheiro e da protuberância masculina. Empurrou a menina delicadamente e fez aquela caretinha de desculpa aí, não era nada disso.
Foi para o bar e tomou num gole só uma dose de vodka, dançou até se acabar e saiu de lá feliz. Ficou certa de que ela realmente gostava de homens, mas que era pós- moderna o bastante para beijar quem ela bem entendesse.

Luciana Barbosa.