segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ao amigo Ita.



Ao amigo Ita.

É janeiro. A chuva cai e aumenta ainda mais a minha agonia de saber que nada posso fazer por ti.
Todas ás vezes que vou ao hospital procuro aquele sorriso lindo, a vivacidade das sardas, os assuntos bem colocados, mas o que encontro em seu olhar são a tristeza e o sofrimento de estar a trinta dias numa cama e num lugar que não são seus.
Levanta meu amigo Ita!
Volta a sorrir sem dor, a passar em casa para tomar aquele cafezinho da tarde e comermos pamonha da esquina.
Quando te vejo assim tão frágil, penso na minha incapacidade de nada poder fazer. E me ponho á fazer e pedir preces.
Levanta amigo. É cedo demais para desistir, temos tanto que caminhar, tanto para viver.
Você é meu amigo irmão, um pedaço importante da minha história e só podemos partir daqui bem velhos e ranzinzas lembra?
A chuva cessou e espero que com ela sua agonia também. Amanhã é um outro dia, uma nova esperança.
Tenho fé que logo, logo você saia daí e volte a ser meu querido, pra gente poder se acabar de cantar músicas bregas e rir de tudo e de nada, apenas pelos simples prazer de viver.

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Matilde.



Vinha ladeira abaixo se equilibrando como dava. Tinha bebido todas e mais algumas e o que era pior, uma pinga de péssima qualidade, já que o que contava era o preço em questão. Maldita! A pinga e a mulher, que era a razão daquele porre todo.
Deu três passos pra frente e dois para trás e o mundo inteiro girou, caiu sentado entre a calçada e a rua, começou a rir descontroladamente e foi deitando o corpo bem devagar.
Ficou ali rindo sem motivo por um bom tempo observando o céu azul, vendo tudo rodar. Até que parou. Ele, o mundo e o riso.
Sentiu no peito um aperto imenso e ficou parado tentando respirar bem devagar para ver se aquela agonia passava, se algo em sua mente clareava. Que nada. Sentia era o vômito na garganta, aquele enjôo sem fim e a incapacidade de controlar o próprio corpo.
Tentou levantar bem devagar, apoiando onde dava para não cair novamente. Tinha que continuar já que o caminho era longo e não havia sobrado sequer trocados para a condução.
De novo veio em seu pensamento aquela danada por quem havia perdido todas as estribeiras, toda a razão de ser, Matilde. Mulher brejeira de cabelos negros que escorriam pelas costas, sorriso largo, tanto quanto as ancas, que sinceramente era o que ele mais amava.
Passou um filme pela sua cabeça enquanto ele tentava vencer a ladeira. Ela bem que tinha avisado tantas vezes que sua paciência e amor tinham limites, mas ele macho que era nunca pensou que ela pudesse o abandonar e continuava na sua vida de casado sem compromisso.
Sua cova começou a ser cavada quando uma prima de Matilde veio passar uns dias na casa dos dois. Carne nova rebolando pela casa, não deixou passar e foi pego no flagra. Foi um quebra geral sem direito a argumento e defesa. Saiu com as roupas do corpo e nada mais. O resto era lenda, nem ele se lembrava direito.
Chegou à pensão com o restante das forças que tinha e nem cogitou um banho. Não tinha forças, o único gesto que fez foi tirar da carteira uma foto gasta de Matilde, deitar na cama e apagar agarrado á ela.
Do outro lado da cidade Matilde também deitada, olhava com raiva uma foto dele e fazia uma promessa a si mesmo que faria o ódio superar o amor que ainda restava em seu peito, como se fosse possível controlar os sentimentos.

Luciana Barbosa.