segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crônica do Amor Improvável



Se a vida não é óbvia quem diria o amor!
Tinham tudo para não combinarem, ela mais velha, cheia de pequenas manias que os solitários cultivam, ele, ainda na casa dos pais com a mãe ligando na madrugada pra saber se iria dormir em casa ou não.
Ela era cheia de experiências amorosas mal sucedidas e trazia no fundo a certeza que iria viajar pra Europa quando envelhecesse com uma dessas excursões da terceira idade. Achava-se moderna suficiente para não se prender à convenção do amor; amava os filhos, os amigos, tinha dias que se amava incondicionalmente e amava o simples fato de estar viva, mas, lá no fundo incomodava-se com as histórias vazias que carregava na bagagem, e mesmo sem admitir, sonhava com o amor convencional.
Ele, depois de um único relacionamento de três anos, quando se viu na condição de solteiro novamente quis aproveitar a vida. Cerveja, botecos, amigos e a moça da vez. Isso, por que não queria nada fixo, nada duradouro e enchia o peito para afirmar para quem quisesse ouvir que era um solteiro convicto.
Afirmou isso até pra ela, na terceira vez que se viram e ela balançou a cabeça afirmativamente num gesto de quem não estava nem um pouco preocupada. Ele não seria o homem que ela imaginara para sua vida, não era aquele companheiro que ela desenhava com todo cuidado e pintava com as cores da mente.
Criava toda a cena: ele chegando em casa e contando para os pais, que estava namorando uma mulher nove anos mais velha, que já havia sido casada e tinha um casal de filhos sendo que a mais velha já tinha dezoito anos. Podia ver a pretensa sogra dando taquicardia, enchendo os olhos de lágrimas e se lamentando pelo futuro do filho, o pai todo cuidadoso chamando o filho para uma conversa de homem para homem e dizendo que ele merecia mais para seu futuro. Era um amor improvável. Então não havia com o que se preocupar.
Mas a questão já era essa, o encontro casual dos dois durante uma viagem de feriado prolongado em que só alguns se conheciam, o primeiro olhar e aquela afinidade instantânea, o passar de mão nos cabelos, o primeiro beijo e o destino traçado a partir daquele momento, nunca mais seriam solteiros, convictos ou não. Se fossem românticos tradicionais poderiam dizer que foi amor à primeira vista, mas isso não iriam admitir, achavam piegas esse senso comum.
Hoje, trocam por apelidos açucarados como todo casal que se preza, riem das mínimas coisas e não levantam, nunca, a voz um para o outro, nem quando algo não está a contento. Passam a noite conversando e relembrando que, nem ela, nem ele, acreditavam que amor assim fosse possível, a não ser nas telas dos cinemas e a única preocupação agora são os preparativos do casamento que esta por vir.
Ah, e quanto aos sogros, não se preocupem, é como o filho: prezam pela felicidade e não são presos às convenções.
Ela agora não tem dúvida de que improvável é só aquilo que não deixamos acontecer pelo simples medo de viver.


Luciana Barbosa.

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