quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sem listas de resoluções, obrigada!



Sim, estou nessa letargia. Dezembro é o mês que mais me entedia.
Essa obrigação de repensar o ano, de fazer planos futuros, de sermos felizes á qualquer custo. Quem ainda acredita que um milagre acontece do dia trinta e um de Dezembro para o dia primeiro de Janeiro?
Aprendi faz um tempo, que independente da roupa que eu use, da festa que eu passe, das ondas que eu pule, o calendário vira, o ano muda, mesmo que eu não queira.
E aí meu caro, é encarar mais doze meses de tristezas e alegrias, porque viver é isso, é continuidade. E não adianta querer que tudo aconteça como num passe de mágica. Não existem receitas mágicas e sim planejamento.
Quer ter dinheiro sobrando??? Pare de gastar, seja econômico, viva de acordo com a sua realidade, mesmo que ela seja fudida.
Quer viajar??? Se programe ou tenha coragem e jogue a mochila nas costas.
Quer alguém pra chamar de seu??? Seja menos ranzinza, mais leve, menos exigente.
Afinal, tudo depende da forma que encaramos o mundo e é melhor que seja da forma mais real e direta, sem grandes dramas, porque das pequenas e grandes surpresas a vida mesmo se encarrega para nos surpreender.
E me façam um favor, utilizem o ano que se aproxima como se fosse uma escola permanente para amabilidades e boa educação, afinal de contas usar isso apenas em Dezembro não modifica a vida de ninguém.
Uma feliz continuidade para todos nós!

Luciana Barbosa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sentidos.


Quando sinto teu cheiro, minha boca saliva.
Meu corpo estremece.
Meus pêlos arrepiam.
Se te encosto, mudo de rumo.
Mudo de prosa,
Saio de mim.
Se não te vejo,
Entristeço,
Me perco.
Ai de mim...Ai de mim.

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ponto de vista.


Alucinando, pergunto para os efemerópteros qual a sensação de ser ter apenas um dia de vida.
E eles de uma forma bem peculiar me respondem:
_ Mas isso é uma vida inteira!

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sincronicidade.



A minha solidão é compartilhada. Há milhões de solitários pelo mundo.
Minha dor, única, mas várias dores á minha volta.
Nunca fico totalmente acompanhada ou só. Carrego o mundo dentro de mim.
E há dias em que ele pesa. Como pesa.
Meus pensamentos são plágios, resquícios de pensamentos alheios.
Sou euforia.
Sou dor.
Sou esperança.
E assim como eu, outros, respirando o mesmo ar.

Luciana Barbosa.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Simplicidade.


Não sei em que momento me perdi, nem mesmo sei se realmente me perdi ou se já era assim. Sei que não gostaria de ter sido engolida pelo sistema, de poder seu mais eu e não fazer nada quando bem entendesse.
Gostaria de ser criadora dos meus caminhos e não criatura de uma sociedade que não para nunca. Ok. Estou sendo pessimista.
Mas como explicar que quanto mais temos, mais necessitamos?
Isso conta não só para dinheiro, que é o que move o mundo, mas tudo! Queremos mais conforto, carros melhores, casas maiores. Queremos para inflar nosso ego, mais seguidores nas infinitas redes sociais, mais popularidade e reconhecimento e olha que geralmente nem seres humanos dignos somos. A maioria de nós se pudesse ser comparado á um livro, seria apenas uma capa bonita, sem um conteúdo que realmente valesse a pena ler.
Ando revendo meus valores e acreditem, estou tentando cultivar um pouco mais de educação, de paciência, de amor ao próximo e me livrar de um bocado de soberba, de vaidade e conversas vazias.
Sei que pra me deixar feliz, é preciso pouco. Eu que de vez em quando, me deixo seduzir pelas idiotices do mundo e esqueço-me da simplicidade da vida, que só nos pede pra sorrir e respirar bem devagar.

Luciana Barbosa.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Esqueça o verbo sublimar.


Nós mulheres temos mania de sublimar o amor. Queremos o homem e o relacionamento perfeito. Levando em consideração ainda, quando nós encafifamos de arrumar o que não tem conserto. E isso, caríssimos, é mais comum em nosso mundo feminino do que vocês homens, possam imaginar.
Não conseguimos ser lindamente independentes e muito menos racionais, no melhor sentido da palavra, quando a questão envolve qualquer sentimento.
Passamos a sublimar. E aí, dá-lhe!
O caboclo passa a ser o companheiro perfeito, o relacionamento aquele que deveria durar uma vida e o pior, começamos a nos questionar onde erramos. Sempre nos colocamos a culpa.
E sabe que na maioria das vezes temos razão em nos culpar? Sim porque queremos sempre o que não temos. Ou se o companheiro não oferece o mínimo do que necessitamos, ficamos sofrendo para ficar costurando um amor que na maioria das vezes só existe na nossa cabeça.
Vamos combinar? Sejamos mais realistas. Nisso admiro os homens, eles sabem se posicionar e quando querem algo é preto no branco sem mais delongas.
Não há como achar perfeição nos outros se nós mesmas não somos perfeitas e digo mais, nenhum ser o é.
Então coloquemos nosso pé no chão e vamos trabalhar com o que temos mesmo ou sermos suficientemente corajosas para colocar a fila para andar, ou como diz uma amiga minha, dar linha na pipa, soltar o cabelo pra dançar e ser feliz.
Porque amadas, cada amor é único e cada suspiro é válido!

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dos impropérios masculinos.



João vivia sendo acusado por suas ex que não se comprometia com nada, nem com ninguém que não fosse futebol, cerveja e amigos e resolveu um belo dia mais por teimosia do que por convicção que a próxima mulher por quem se interessasse iria se dedicar de corpo e alma, só para mostrar de que era capaz de amar por inteiro outro alguém que não fosse ele.
Não demorou muito cruzou seu caminho com Maria Clara, mulher de traços delicados e personalidade forte como qualquer taurina que se preze. Foi tiro e queda. Apaixonou-se
logo pela bela morena e colocou seu plano de extrema dedicação em ação.
Era um tal de buscar no trabalho, mandar flores, levar para jantar, mas, tudo na medida certa para não enjoar, porque sabia que o limite entre o pegajoso e o amoroso para as mulheres era ínfimo.
Estava super dedicado e pela primeira vez curtindo um relacionamento onde não só ele era o centro das atenções. Começou mesmo a pensar que os dois eram almas gêmeas e que a ligação que os unia era imensa, aliás, colocou na cabeça que eram um só.
Foi aí que a bagaça desandou. Um dia os dois caminhando no parque sentiram uma dor no calcanhar esquerdo e verbalizaram isso ao mesmo tempo, ela achou aquilo lindo, ele calou.
Num outro dia tiveram uma crise renal juntos. Um gemendo daqui o outro de lá, ela colocou a culpa na comida apimentada de sua tia, ele achou que era algo muito maior e calou mais ainda.
E foi ficando assim estranho, estranho, até ir se afastando de Maria Clara e terminar o namoro.
Ela chorando queria explicações já que se davam tão bem e ele usando a frase de sempre disse que ela merecia algo melhor e partiu.
Saiu fora do prédio de Maria Clara, acendeu um cigarro e deu uma tragada de alívio. Ele amava realmente a pequena, estava curtindo aquela vidinha á dois, mas, o lance de sentir as mesmas coisas? Estava fora. Nem as conversas com amigos o convenceu de que aquilo não era uma ligação sobrenatural e sim uma mera coincidência.
Pra ele os dois eram um só. E só de lembrar das dores renais passadas juntas, sabia que não estaria preparado nunca na vida, por exemplo, para uma dor de parto, para as cólicas mensais e por aí adiante.
Melhor assim. Sabia que á partir daquele momento suas ligações amorosas seriam superficiais, para não correr nenhum risco.

Luciana Barbosa

terça-feira, 18 de maio de 2010

Dos impropérios femininos.



Bruno se considerava um cavalheiro. Sempre gentil com as mulheres, sabia como agradar. Abria a porta do carro, pagava o motel e nunca aceitava dividir a conta no restaurante.
Achava que conhecia a alma feminina como nenhum hétero, até o dia que conheceu Larissa.
Ela, com seu jeito despojado, independente e cheia de si ganhou o coração do moço em questão e com o amor consolidado veio o próximo passo que foi o de morar juntos.
Foi aí que ele descobriu que o mundo feminino era bem mais complexo do que ele imaginava.
No primeiro mês juntos, naquela de amorzinho pra cá, bubuzinho pra lá, acontece à primeira cólica e com ela a necessidade do absorvente.
Ele querendo agradar, propõe correndo a compra do tal, ela toda preocupada diz que então vai escrever no papel as especificações do produto para não haver erro.
Ele dá uma risadinha rápida e diz que ela pode confiar, a compra de um absorvente não deveria ser mais complicada que uma troca de óleo em seu carro e sai.
Chega á farmácia e se depara com uma imensa prateleira de variedades infinitas de absorventes. Camadas secas, super secas, noturno, cobertura suave, com abas, sem abas, internos e afins.
Nunca viu tanta indicação em um produto que seria tão facilmente descartado. Tentou a atendente do local, ela deu um sorriso meia boca e perguntou:
- Qual ela usa?
Aí ele desistiu. Voltou pra casa cabisbaixo e foi ter sua primeira aula sobre absorventes e suas particularidades. Mas os externos, porque os internos, bem isso é outra história já que Bruno ficou todo confuso só de pensar na utilização da cordinha.

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Amélia Moderna.




Sim senhoras e senhores, sou uma Amélia moderna.
No princípio só Amélia, daquelas que a mãe ensinou a encerar o chão de joelhos, a cozinhar o arroz soltinho e a cuidar do marido bem, quando o casamento acontecesse.
E o casamento aconteceu bem mais rápido do que eu esperava, aos dezesseis pude colocar em prática todas as receitas e antes mesmo dos vinte troquei todos os embalos do sábado á noite, pelos embalos dos filhos queridos. Longe da família, dos amigos e sem entender por muito tempo o que eu gostaria mesmo para minha vida, fui tentando construir algo que nem mesmo eu sabia o que era.
O resultado foram dez anos frustantes e cheios de mágoas e uma separação nada amigável que me deu de presente ainda uma doença crônica e emocional, o Lúpus.
De mala, cuia e duas crianças, atravessei estados e como toda mulher separada e sem formação, fui parar direto no lar materno. Recomeço complicado e difícil para todos nós.
Durante os dez anos seguintes, fui vendedora, atendente, locutora, apresentadora e faxineira do próprio lar nas horas que me sobravam.
Também fui baladeira, beijoqueira, mas não se iludam, sempre fui Amélia e sexo pra mim sempre tinha que ter o envolvimento, o carinho. E não que eu não tenha me enganado nesses dez anos de solteira novamente. O que eu peguei de traste, melhor nem publicar.
Até que me modernizei, pensei na minha carreira, no que eu gostaria pra mim e aprendi a me amar antes do que qualquer um.
Aos trinta e cinco, conheci meu companheiro nove anos mais novo, me casei com violino e vestido de noiva e chorei de emoção como uma louca.
Contra todas as más expectativas, o casamento vai muito bem há quase dois anos, a saúde melhorou relativamente, saí do vermelho e pude finalmente respirar.
A filha está na faculdade federal, o filho no cursinho e eu me preparando para daqui dois anos, quando fizer quarenta, ir comemorar na Europa. Porque afinal de contas, eu fiz por merecer.

Luciana Barbosa.
Amélia assumida e moderna o bastante para não ter vergonha disso.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Compartilhando o que é bom!!!

"Infelizmente, vivem muito perto. Embaixo da cama ou no armário em frente, que nunca fecha direito que é para espiarem. Viver é aprender a apaziguar os monstros, sabendo que são indomáveis e, mais dia, menos dia, podem voltar a morder."

Mario Corso.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ele se foi.


Despede-se desse mundo, Itamar Machado.
Sim, ele se foi.
Saiu dessa vida ainda jovem, que é como todos nós gostaríamos de ficar.
Deixou na lembrança o sorriso farto, a voz firme, o português correto e o topete inconfundível.
Deixou também a dignidade tão inerente á ele.
Foi filho dedicado, amigo amado, profissional respeitado e acima de tudo um ser humano bondoso e leal.
Em mim, deixou a saudade e a certeza de ter tido ao meu lado mais que um simples amigo.
Ele se foi.
Mas antes engrandeceu minha alma com compaixão e sabedoria. Trouxe nos momentos mais complicados as palavras corretas e o abraço mais apertado. E encheu meu mundo de música, as melhores por sinal.
Hoje o mundo se pintou de cinza e a dor tomou todos os espaços. Não há poesia, nem esperança, só um vazio imenso.
Sim, ele se foi.
E com ele a certeza da partida e mais ainda do reencontro. E por favor, perdoe se nesse texto tiver algum erro. É que meu revisor mais amado está com certeza á caminho do céu.

Luciana Barbosa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ao amigo Ita.



Ao amigo Ita.

É janeiro. A chuva cai e aumenta ainda mais a minha agonia de saber que nada posso fazer por ti.
Todas ás vezes que vou ao hospital procuro aquele sorriso lindo, a vivacidade das sardas, os assuntos bem colocados, mas o que encontro em seu olhar são a tristeza e o sofrimento de estar a trinta dias numa cama e num lugar que não são seus.
Levanta meu amigo Ita!
Volta a sorrir sem dor, a passar em casa para tomar aquele cafezinho da tarde e comermos pamonha da esquina.
Quando te vejo assim tão frágil, penso na minha incapacidade de nada poder fazer. E me ponho á fazer e pedir preces.
Levanta amigo. É cedo demais para desistir, temos tanto que caminhar, tanto para viver.
Você é meu amigo irmão, um pedaço importante da minha história e só podemos partir daqui bem velhos e ranzinzas lembra?
A chuva cessou e espero que com ela sua agonia também. Amanhã é um outro dia, uma nova esperança.
Tenho fé que logo, logo você saia daí e volte a ser meu querido, pra gente poder se acabar de cantar músicas bregas e rir de tudo e de nada, apenas pelos simples prazer de viver.

Luciana Barbosa.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Matilde.



Vinha ladeira abaixo se equilibrando como dava. Tinha bebido todas e mais algumas e o que era pior, uma pinga de péssima qualidade, já que o que contava era o preço em questão. Maldita! A pinga e a mulher, que era a razão daquele porre todo.
Deu três passos pra frente e dois para trás e o mundo inteiro girou, caiu sentado entre a calçada e a rua, começou a rir descontroladamente e foi deitando o corpo bem devagar.
Ficou ali rindo sem motivo por um bom tempo observando o céu azul, vendo tudo rodar. Até que parou. Ele, o mundo e o riso.
Sentiu no peito um aperto imenso e ficou parado tentando respirar bem devagar para ver se aquela agonia passava, se algo em sua mente clareava. Que nada. Sentia era o vômito na garganta, aquele enjôo sem fim e a incapacidade de controlar o próprio corpo.
Tentou levantar bem devagar, apoiando onde dava para não cair novamente. Tinha que continuar já que o caminho era longo e não havia sobrado sequer trocados para a condução.
De novo veio em seu pensamento aquela danada por quem havia perdido todas as estribeiras, toda a razão de ser, Matilde. Mulher brejeira de cabelos negros que escorriam pelas costas, sorriso largo, tanto quanto as ancas, que sinceramente era o que ele mais amava.
Passou um filme pela sua cabeça enquanto ele tentava vencer a ladeira. Ela bem que tinha avisado tantas vezes que sua paciência e amor tinham limites, mas ele macho que era nunca pensou que ela pudesse o abandonar e continuava na sua vida de casado sem compromisso.
Sua cova começou a ser cavada quando uma prima de Matilde veio passar uns dias na casa dos dois. Carne nova rebolando pela casa, não deixou passar e foi pego no flagra. Foi um quebra geral sem direito a argumento e defesa. Saiu com as roupas do corpo e nada mais. O resto era lenda, nem ele se lembrava direito.
Chegou à pensão com o restante das forças que tinha e nem cogitou um banho. Não tinha forças, o único gesto que fez foi tirar da carteira uma foto gasta de Matilde, deitar na cama e apagar agarrado á ela.
Do outro lado da cidade Matilde também deitada, olhava com raiva uma foto dele e fazia uma promessa a si mesmo que faria o ódio superar o amor que ainda restava em seu peito, como se fosse possível controlar os sentimentos.

Luciana Barbosa.