quarta-feira, 24 de junho de 2009

A dor Liberta!




Ele parecia sempre mal humorado, ranzinza, mas para quem o conhecia de verdade sabia. O que ele tinha era um amor daqueles mal curados e que se tornava ainda pior por ser parcialmente inventado.
Às vezes queremos adiantar o curso da vida e pegamos a primeira pessoa que passa e a maquiamos da melhor forma possível para aliviar a solidão.
Queremos fazer dar certo e inventamos alguém que só nós a enxergamos com tamanha perfeição e é onde nos machucamos.
Em determinado tempo de sua vida ele tinha inventado alguém e ao longo de anos sofria daquele amor mal curado.
E não adiantava os amigos falarem, nem as sucessivas brigas, ofensas e humilhações. Ele a havia colocado no altar imaculado dos sentimentos tolos e nada abalava sua esperança de construir uma vida a dois. Até que um dia adoeceu.
Não, não pense que foi de amor. Foi um câncer mesmo, daqueles que chegam sem avisar e nos pegam de surpresa num exame de rotina.
Com o laudo em mãos, sua vida passou a tomar um gosto diferente, e uma visão inesperada e mais consciente foi tomando forma.
E bastou uma conversa com o objeto do seu desejo para ele entender que a vida é importante demais para ser desperdiçada com invenções vazias.
Pela primeira vez teve coragem de verdade. Jogou fora as fotos, bloqueou endereços eletrônicos, cortou o mal pela raiz. Marcou a cirurgia e reviveu.
Porque há casos em que o amor em nada ajuda, mas a dor sim, essa liberta!

Luciana Barbosa.

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