quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Carpe Diem.
Sentiu aquele arrepio de que algo ruim iria acontecer. Dificilmente errava. Seus pressentimentos eram sempre certeiros e nunca notícias boas.
Olhou pela janela do quarto e a chuva descia fininha como se fossem lágrimas. Detestava meio termo, desde criança nunca gostou, ou era, ou não era. Ou a chuva vinha torrencial pra molhar tudo e todos, ou nem deveria dar o ar da graça. Respirou um pouco mais fundo. “Que dia triste” e nem sabia por quê. Aquele aperto no peito foi tomando uma forma claustrofóbica. Parecia que queria sair, explodir suas entranhas. Chorou, depois fez uma prece, e logo em seguida, se sentiu tola.
Odiava dias cinzentos, pois se sentia fadada ao infortúnio e à desgraça. Respirou fundo e ficou ali naquele monólogo tão pessoal e vazio que não iria dar em nada, isso ela já sabia.
Foi até o guarda-roupa e pegou o melhor casaco que tinha, pelo menos bem agasalhada iria estar para enfrentar o trajeto até o trabalho. Pegou sua sombrinha e abriu a porta bem devagar como se todo o mal do mundo estivesse à sua espreita. Ficou um tempo com a porta entreaberta respirando aquele ar gelado e sentindo o vento no rosto.
Como não tinha jeito, saiu e trancou a porta rapidamente e já na descida da escada pisou numa poça, meneou a cabeça num sinal de que realmente aquele não seria seu dia.
Tinha a sensação ao caminhar, que observava tudo de uma forma inusitada, como se estivesse fora do corpo, como se a mente não necessitasse dele para continuar o caminho. Parou na padaria de sempre para tomar o primeiro cafezinho da manhã. Desatenta, deixou metade cair no casaco e mentalmente soltou um palavrão. Definitivamente achou que melhor seria se tivesse ficado em casa, dormindo.
Pelo menos a chuva podia dar uma trégua, já iria ajudar, e muito, a melhorar o seu estado de espírito.
Estava a apenas a dois quarteirões da gráfica onde trabalhava, deu uma paradinha e olhou para a placa já desbotada pelo tempo. Pensou seriamente em dar meia volta e ir para sua cama quentinha, mas ela sempre fora responsável e detestava mentiras, aliás, não sabia nunca como dizê-las, e por isso, sempre se dava mal.
Sentiu novamente aquele arrepio na espinha e fechou os olhos momentaneamente. Repetiu a prece e abriu os olhos bem devagar, respirando bem compassado, aquilo só podia ser coisa da sua cabeça, resolveu não pensar mais nisso e culpou o tempo pelo arrepio, estava frio.
Começou a atravessar a rua e deu um leve sorriso. Tinha dias que nem ela se suportava, parecia louca e nem podia culpar sua TPM, pois àquele mês já estava livre dessa bomba hormonal.
Pisou na calçada bem devagar, escolhendo um lugar mais seco para pisar. Foi aí que ouviu um barulho e gritos. Tudo pareceu tão irreal, tão rápido.
Um carro, vinha em sua direção de uma forma desgovernada, já tendo atingido a barraquinha de flores de dona Edith e mesmo assim continuava a toda velocidade. Ela ficou sem reação e nem saberia dizer quanto tempo durou, e nem poderia.
Testemunhas atordoadas tentavam ordenar os fatos e remontar a cena depois do acidente, mas a maioria se lembrava de uma coisa. Aquela moça antes de ser esmagada pelo veículo e cair morta ali mesmo, ainda gritou:
-Meu Deus! Então é assim que termina?
Se ela soubesse, com certeza teria aproveitado melhor suas últimas horas, porque à morte, essa sim era inevitável.
Luciana Barbosa.
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