quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A vida é tão rara.



Para quem conhece a música do Lenine, Paciência, o título com certeza vai parecer familiar. Sim, pra você que está lendo essa crônica e não conhece transcrevo um pedaço que julgo muito importante para o que vou escrever:
“Será que é tempo que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara, tão rara...”
Passei por algo extremamente inusitado nesta última semana. Meu companheiro, com quem me casei há apenas dois meses, foi para uma mesa de cirurgia fazer uma operação cardiaca com direito a peito aberto e UTI, e com toda a tecnologia existente vi, mesmo que pequena, a possibilidade de perdê-lo, de estar novamente só, de não ter quem me suporte nos meus piores dias e de não ter quem ria das minhas bobagens e me faça sentir sempre um ser humano melhor.
Não se preocupe, ele está bem! Costurado, fazendo uma inusitada dança do operado e extremamente animado para a vida, e é aí que entra a letra da música.
A Vida é tão rara, e será que percebemos que não sabemos quanto tempo temos disponível? Precisamos de que algo nos chacoalhe, nos estremeça, nos apavore para pensarmos em nós e no que realmente queremos.
Guardamos mágoas antigas, problemas que seriam tão facilmente resolvidos, não nos permitimos perdoar simplesmente a nós, quanto mais aos outros.
Gastamos muito da nossa energia vital correndo a vida inteira atrás da perfeição, sendo que ela não existe, nem em nós.
Não há relacionamentos perfeitos, amigos perfeitos, vida perfeita. Até por que tudo seria uma chatice, uma rotina sem fim. Como reconheceríamos o bom se não tivéssemos experimentado o ruim?
Esse é o melhor momento para se viver. Estamos respirando e apesar de todos os problemas existentes ainda temos as melhores oportunidades para tentar algo diferente e inusitado. Sermos simplesmente felizes sem muita complicação, sem muito tropeço, porque felicidade é estado de espírito, e não dá pra ser feliz o tempo todo.
Aproveite os momentos, crie situações favoráveis e seja menos amargo.
Porque se olharmos em volta notaremos que a vida é mesmo tão rara e que somos privilegiados por apenas existirmos.


Luciana Barbosa.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sob a ótica das possibilidades!



Na maior parte do tempo sabemos o que deve ser feito para vivermos melhor, mas precisamos de algo ou alguém que desperte em nós, nem que seja por pouco tempo, a necessidade de melhora, da busca por dias perfeitos.
Passamos muito tempo correndo atrás de dinheiro, de bens materiais, sendo que o que realmente nos alimenta, nenhum dinheiro pode comprar e se chama paz de espírito.
Porque sem ela, nada se completa, nada satisfaz. Posso mentir para o mundo, posso agregar pessoas, posso ter dinheiro, mas não posso me enganar o tempo todo. Em algum momento reconheço em mim o ser humano que habita, um corpo que se desgasta, e no fim, não valerá nada.
Minhas ações, pensamentos, esses sim, perduram e é o que me faz sentir mais feliz ou extremamente infeliz, pois não posso me enganar, posso enganar a todos, mas não a mim.
Então, que tal tentarmos a partir de hoje olharmos nossas vidas sob a ótica das possibilidades?
A possibilidade de sermos mais felizes com o que temos, sermos mais verdadeiros conosco e sermos mais amáveis com o mundo. Sim, porque fazemos parte dele e somos responsáveis por tudo que gira ao nosso redor.
Que tal acreditarmos mais em nosso poder de conquista e que somos dotados de talentos únicos, nem que seja nas mínimas coisas como contar uma piada que faça o outro rir ou apenas saber o momento de calar e ouvir?
Você está vivo, esta já é por si a máxima das possibilidades. Então, por que não sonhar com aquela viagem distante, aquele amor que ainda não chegou ou aquele emprego novo?
Junto com as possibilidades há sempre o poder da realização, porque pensamento é ação e é o primeiro passo para o nascimento de um novo empreendimento, para mudanças pequenas ou radicais, para reconciliações que parecem impossíveis.
Pra vivermos sob a ótica das possibilidades, só é preciso uma coisa: Acordar de manhã e reconhecer que respirar é uma dádiva e agradecer. É ser mais prestativo, menos amargo, mais confiante.
É saber e entender de uma vez por todas que viver é a melhor das possibilidades e que é melhor aproveitar todos os momentos.

Luciana Barbosa.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Carpe Diem.




Sentiu aquele arrepio de que algo ruim iria acontecer. Dificilmente errava. Seus pressentimentos eram sempre certeiros e nunca notícias boas.
Olhou pela janela do quarto e a chuva descia fininha como se fossem lágrimas. Detestava meio termo, desde criança nunca gostou, ou era, ou não era. Ou a chuva vinha torrencial pra molhar tudo e todos, ou nem deveria dar o ar da graça. Respirou um pouco mais fundo. “Que dia triste” e nem sabia por quê. Aquele aperto no peito foi tomando uma forma claustrofóbica. Parecia que queria sair, explodir suas entranhas. Chorou, depois fez uma prece, e logo em seguida, se sentiu tola.
Odiava dias cinzentos, pois se sentia fadada ao infortúnio e à desgraça. Respirou fundo e ficou ali naquele monólogo tão pessoal e vazio que não iria dar em nada, isso ela já sabia.
Foi até o guarda-roupa e pegou o melhor casaco que tinha, pelo menos bem agasalhada iria estar para enfrentar o trajeto até o trabalho. Pegou sua sombrinha e abriu a porta bem devagar como se todo o mal do mundo estivesse à sua espreita. Ficou um tempo com a porta entreaberta respirando aquele ar gelado e sentindo o vento no rosto.
Como não tinha jeito, saiu e trancou a porta rapidamente e já na descida da escada pisou numa poça, meneou a cabeça num sinal de que realmente aquele não seria seu dia.
Tinha a sensação ao caminhar, que observava tudo de uma forma inusitada, como se estivesse fora do corpo, como se a mente não necessitasse dele para continuar o caminho. Parou na padaria de sempre para tomar o primeiro cafezinho da manhã. Desatenta, deixou metade cair no casaco e mentalmente soltou um palavrão. Definitivamente achou que melhor seria se tivesse ficado em casa, dormindo.
Pelo menos a chuva podia dar uma trégua, já iria ajudar, e muito, a melhorar o seu estado de espírito.
Estava a apenas a dois quarteirões da gráfica onde trabalhava, deu uma paradinha e olhou para a placa já desbotada pelo tempo. Pensou seriamente em dar meia volta e ir para sua cama quentinha, mas ela sempre fora responsável e detestava mentiras, aliás, não sabia nunca como dizê-las, e por isso, sempre se dava mal.
Sentiu novamente aquele arrepio na espinha e fechou os olhos momentaneamente. Repetiu a prece e abriu os olhos bem devagar, respirando bem compassado, aquilo só podia ser coisa da sua cabeça, resolveu não pensar mais nisso e culpou o tempo pelo arrepio, estava frio.
Começou a atravessar a rua e deu um leve sorriso. Tinha dias que nem ela se suportava, parecia louca e nem podia culpar sua TPM, pois àquele mês já estava livre dessa bomba hormonal.
Pisou na calçada bem devagar, escolhendo um lugar mais seco para pisar. Foi aí que ouviu um barulho e gritos. Tudo pareceu tão irreal, tão rápido.
Um carro, vinha em sua direção de uma forma desgovernada, já tendo atingido a barraquinha de flores de dona Edith e mesmo assim continuava a toda velocidade. Ela ficou sem reação e nem saberia dizer quanto tempo durou, e nem poderia.
Testemunhas atordoadas tentavam ordenar os fatos e remontar a cena depois do acidente, mas a maioria se lembrava de uma coisa. Aquela moça antes de ser esmagada pelo veículo e cair morta ali mesmo, ainda gritou:
-Meu Deus! Então é assim que termina?
Se ela soubesse, com certeza teria aproveitado melhor suas últimas horas, porque à morte, essa sim era inevitável.

Luciana Barbosa.