segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Cabelo.



Itamar era um ser extremamente divertido e amoroso. Bem ligado à família, só tinha uma coisa que incomodava: Era metódico. Seu apartamento era limpo e arrumado, sua mesa no trabalho, mesmo nos piores dias, era organizada e clean, sempre mantinha tudo na mais perfeita ordem até com sua vida sentimental. Não se importava se estava sozinho ou acompanhado, ou se iria envelhecer sozinho. Ele gostava da sua vida seguindo o curso normal e sem grandes surpresas.
Tinha um topete que era sua marca registrada e gastava rios de dinheiro pra manter o cabelo sempre bonito e arrumado, era sua obsessão.
Um dia, depois de um dia exaustivo de trabalho, ele entrou em seu carro e saiu distraído quando viu um cabelo longo e loiro preso no limpador do pára-brisa. Ficou prestando atenção nos movimentos que ele fazia, era como uma dança ritmada e cheia de sedução, o sol batia no fio fazendo ele brilhar e parecer ainda mais bonito aos olhos de um encantado Itamar.
A primeira reação de qualquer ser desprovido de poesia seria retirar o fio e jogá-lo fora, mas não ele. Sabia ver as belezas ocultas da vida e amou tanto aquele fio dançando na sua frente que passou a cuidar para que ele se mantivesse ali, firme pelos caminhos que ele fazia no dia-a-dia.
Aliás, ele até mudou o trajeto que fazia sempre, para escolher ruas mais sinuosas que proporcionassem movimentos bem mais interessantes para aquele fio de cabelo.
Divertia se imensamente quando estava dirigindo e olhando aquele balé cheio de nuances até que começou a perceber, depois de duas semanas, que o fio começara a desprender-se. Sentiu o coração pesar. Como poderia viver sem aquela distração diária, sem o brilho daquele fio? Passou a andar mais devagar e ser extremamente cuidadoso para que o fio não se desprendesse tão rápido, mas era inevitável. O fio mais dia menos dia iria voar e ele não achava prudente prendê-lo porque aí sua dança perderia a naturalidade e beleza.
E como pressentido num dia de ventos mais fortes, o danado alçou vôo. Fez uma pirueta, deu uma enroscada no ar e sumiu. Parou o carro e ficou ali, olhando para o nada, com aquela sensação estranha de um vazio sem explicação.
Depois do ocorrido, Itamar voltou para sua vida metódica e previsível novamente. O único resquício que sobrou daquele fio bailarino são os suspiros que vez ou outra se escuta quando lhe ocorre as lembranças do inusitado balé.

Luciana Barbosa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei! Esse "fio de cabelo" representa muita coisa, né?
Beijo grande
Vou passar aqui de vez em quando pra ler seus textos...
Beijo
Rejane Ayres
BH

Kellynha disse...

Amei Lu!!!!
A cada dia que passa, suas palavras
se tornam mais suaves e interessantes.... esse blog passou a ser parada obrigatória pra mim.
Bjinhos e continue a nos presentear
com essa leitura hiper agradável!!