segunda-feira, 25 de maio de 2009

A história de Jurema e Zé Pipoco.




Jurema era toda espevitada. Sorriso frouxo, ria de tudo e de nada. Trabalhava na casa de dona Sophia como empregada doméstica, mas dizia no morro que era secretária pessoal, aliás, enchia o peito pra dizer isso.
Dona Sophia era uma dondoca boa gente que vivia rindo da mania que Jurema tinha de querer ser famosa. Ela vivia dizendo que um dia ainda mandaria um vídeo para aquele Big brother, mas entrava ano, saía ano e ela nunca cumpria o prometido.
Amava ver sua patroa nas colunas sociais e se imaginava no lugar prometendo a si mesma uma primeira capa de jornal.
Seu salário, que nem era muito, era dividido sempre em carnês das Casas Bahia e revistas de fofocas. Amava os mínimos detalhes da vida de cada celebridade e não perdia um capítulo de novela, aliás, até chorava no capítulo final, dizia que era tudo tão emocionante.
E assim ela ia levando a vida, com um sonho aqui outro acolá como quem joga na mega sena e fica super rico até conferir o prêmio e ver que o bilhete não foi premiado.
Outra coisa que Jurema amava fora todas essas frivolidades era o forró do domingo no boteco do João Pedreira. A danada se soltava e era sempre disputada para as danças. Saía de lá pingando suor e feliz até não poder mais. Num desses forrós e entre uma dança e outra conheceu Zé Pipoco.
Achou engraçado demais o nome e perguntou o porquê do apelido. Ele respondeu sem muita expressão que era o pipoqueiro da praçinha da paróquia de Santa Helena e que, de tanto estourar pipoca, os amigos mais gaiatos começaram a chamá-lo assim. No começo ele disse que resistiu, ficou bravo, mas depois vendo que não tinha solução, desistiu e agregou o apelido ao nome, assim tirar sarro já não tinha graça e largaram do pé dele.
Ele tinha boa lábia e, entre um baião de dois e um xote, já estava dependurado nos beiços de Jurema e não largou mais. No terceiro forró que foram ele já dormiu no barraco dela e de lá saiu só depois de uma semana. Ela toda apaixonada dizia à dona Sophia que era amor de novela, que ele era seu Lázaro Ramos do morro, uma coisa de louco. Dona Sophia meneava a cabeça e dizia pra ela tomar cuidado, afinal, bicho homem era custoso em qualquer nível social. Tudo em vão, ela dizia que não dava pra esquecer a “pegada” daquele homem e vivia suspirando.
Com menos de dois meses Zé já estava morando no barraco de Jurema. Sempre galanteador, trazia florzinhas roubadas, um docinho aqui, uma surpresinha acolá e assim foi tomando espaço, trazendo seus pertences. O que ela estranhava era só uns equipamentos eletrônicos, uns sacos de farinhas diferentes, umas ervas para chá, que ele dizia que ela não podia mexer, pois ele comercializava tudo para ganhar uns trocados há mais. Ela respeitava, lógico!
O barraco era sempre movimentado, cheio de amigos que iam e vinham. Nunca viu alguém ser tão popular assim e o quanto ela era respeitada por eles, chegavam a baixar a cabeça quando ela passava. Meses se passaram, Zé pipoco só aumentando os negócios e Jurema feliz, feliz, mas daí é como diz o ditado: “Alegria de pobre dura pouco”.
Um dia, sem mais nem menos, baixou polícia de tudo quanto era lado no barraco da Jurema e nessa o Zé escapou fino que nem linha em buraco de agulha.
Descobriu que aquelas ervas eram maconha, a farinha, cocaína, os eletrônicos, carga roubada e Zé Pipoco, um dos maiores traficantes que a história já viu.
No começo, Jurema engaiolada, só chorava e dizia que não sabia o que era aquilo tudo, que também foi enganada e só pensava em voltar pra sua vida normal, mas a polícia ainda fazia pressão pra descobrir o paradeiro do seu companheiro.
Até que uma visita de uma amiga distante fez tudo mudar na cabeça de Jurema. Ela levou um monte de recortes de revistas, dos principais jornais e contou a Jurema que ela estava mais famosa que artista de televisão, que toda hora aparecia nos noticiários.
Quando ela foi embora, Jurema ficou conversando com seus botões e pesou sua vida antes de Zé Pipoco e agora. Estava na cadeia, isso não tinha dúvida, mas acreditava que aquela era a sua chance, estava famosa, nas capas de revistas. Tudo bem que não era como tinha sonhado, mas ela podia reverter tudo á seu favor.
Durante a noite, colocou seus miolos pra funcionar, criou todo um personagem e de manhã já era outra. Chamou a polícia e mandou avisar que agora ela ia falar.
Lembrou- se de filmes de ação, armou tudo na sua cabeça e mandou ficha, deixando os guardinhas boquiabertos. Saiu da sala de interrogatório como a mandante de tudo, a dona da boca, a chefona do tráfico e por incrível que pareça, ganhou respeito. As pessoas a olhavam com medo e a rádio peão só fazia as estórias aumentarem.
Ganhou regalias na cadeia, começou a comandar as outras presas. Aquela Jurema empregada doméstica, já não existia mais e de um jeito ou de outro ela conseguiu a fama e um personagem que ela mesma criara, melhor que qualquer folhetim de novela.

Luciana Barbosa

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