segunda-feira, 30 de março de 2009

In Memorian.



Lamentamos dar a notícia de que a cronista Luciana Barbosa não escreverá mais esta coluna. Ela veio a falecer de estresse agudo por causa da crise que disseram a ela ser só uma marolinha, algo que não atingiria o nosso querido Brasil.
Calma, calma, não chore ou comemore. Primeiro de abril! Sim, uma pequena mentira pra ilustrar sobre o que quero escrever aqui. A mentira.
Tem pessoas que dizem que nunca mentiram, assim, ouço e tento fazer cara de paisagem. Quem nunca contou nem que seja uma pequena mentira que atire a primeira pedra. Vou dar um exemplo: Você está no trânsito e sabe que demora no mínimo vinte minutos pra chegar ao seu destino, toca o telefone, você atende e aquela pessoa que está te esperando há uns trinta minutos te pergunta:
_ Ta chegando?
E você nem titubeia, responde que em uns cinco minutinhos estará lá. Mentira. E não me venha com o argumento de que é uma mentira branda que não afetará em nada o andamento do universo. A questão não é essa.
Existem pessoas que vivem mentindo e nem sentem. Criam um universo paralelo e o pior, querem que acreditemos nele. Começam contando pequenas vantagens sobre relacionamentos, trabalho e quando nos damos conta, o sujeito está nos contando sobre sua viagem internacional que nunca aconteceu. A pessoa se perde em tantas mentiras para autoafirmação por complexo de inferioridade, que caem constantemente em contradição, virando alvo de chacota quando não estão por perto.
Fico pensando nessa cultura do primeiro de abril, de pregarmos peças nos outros, só para termos o gosto de poder enganar o próximo com o consentimento da comemoração.
O problema é que têm pessoas que vivem um eterno primeiro de abril.
Casamentos de mentira, amizades de mentira, trabalhos de mentira e fazem de suas vidas uma fábula em que nada é consistente e que, ética se torna palavra desconhecida. Porque a verdade é aliada da ética, tenha certeza disso.
Eu sei que mentir parece sempre ser mais fácil, mas quando fazemos disso um hábito passamos a mentir para nós mesmos, nos enganamos e isso nunca é bom, porque podemos enganar milhares, mas quando colocamos nossa cabeça no travesseiro, sozinhos com nossos pensamentos sabemos o que realmente acontece.
E se você não se incomoda com isso, acha normal, reveja seus atos e procure ajuda profissional porque acredito muito numa frase que minha avó já dizia:
_ Mentira tem perna curta.
E além das pernas curtas, ela tem o dom de afastar as pessoas que realmente nos amam e as melhores oportunidades. Pensem nisso. Ser verdadeiro vai ser sempre o melhor caminho.

Luciana Barbosa.

terça-feira, 24 de março de 2009

Difícil....



É muito difícil esquecer...
Teu corpo,
Teu beijo,
Teu jeito.
Dificil mesmo é lembrar,
corpos colados e quanta solidão...

Luciana Barbosa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O filme da vida de cada um.



Sentou na calçada e recostou-se no poste, respirou bem fundo sentindo o cheiro de chuva que estava por vir. Amava cheiros, o de chuva, temperos e frutas eram seus preferidos e sempre que os sentia era como se uma felicidade repentina tomasse conta da alma e do corpo. Isso era uma característica impressionante da sua personalidade, coisas simples o tocavam muito mais.
Havia dias que ele se sentia num cinema e tudo que o acontecia parecia surreal. Era como se fosse o espectador de um filme que estivesse acontecendo em terceira dimensão e ele só assistindo tudo, sem ter como modificar ou acrescentar nada.
Ficou parado ouvindo sua respiração e observando o movimento. Uma criança limpando o nariz, a mãe dependurada num telefone público esbravejando com o possível pai sobre um dinheiro que nunca vinha, do outro lado da rua no fio de alta tensão um pombo se equilibrava com uma pequena palha no bico resolvendo onde seria construído seu novo ninho.
Fechou os olhos um instante e ficou sentindo o vento no rosto, respirou fundo novamente e pensou na loucura que era viver. Só de pensar no funcionamento do corpo achava tudo um imenso milagre, quantos músculos, nervos, órgãos, tudo interligado de uma maneira frágil e ao mesmo tempo tão forte. Sempre achou que cada minuto deveria ser tão melhor aproveitado.
Abriu os olhos bem devagar e olhou ao seu redor, o filme já havia mudado o roteiro. A mãe já arrastava o filho ladeira abaixo, o pombo já havia voado rumo ao seu destino. Tudo em questão de minutos. A vida era assim, tudo tão rápido.
Levantou-se bem devagar, balançou o pó da calça e deu uma espreguiçada daquela que estalam os ossos, esboçou um sorriso tranquilo de quem chegou no ponto certo da serenidade.
Tudo o que queria e precisava era de paz para aproveitar os dias que tinha pela frente, sabia que nem todos seriam assim, mas tinha um bom discernimento e força de vontade para entender o filme da vida de cada um.
Estava bem menos materialista, mais humanitário e desapegado da vaidade desmedida, concluiu que estava era muito bem.
Levantou o braço e pegou uma folha de uma árvore de canela que saltava pelo muro, amassou bem devagar e aspirou o aroma, aquilo lembrou sua infância com os chás de sua mãe e o pão com manteiga no fim de tarde.
Resolveu que por hoje seu filme terminaria assim, de frente a uma imensa xícara de chá de canela e um pão fumegante com manteiga derretida, não precisava de mais nada pra ser feliz. Pelo menos por hoje.


Luciana Barbosa.